sexta-feira, 31 de dezembro de 1999

Noticias 1999



Ciclo de cinema organizado pelo Instituto Camões
Cinco grandes filmes portugueses
O "Lugar do Morto", "Sem Sombra de Pecado", "Adão e Eva", "Adeus Pai" e "Jaime" são os cinco sucessos do cinema português contemporâneo que o Instituto Camões, em colaboração com a produtora Samsa Film, vai trazer ao Luxemburgo já a partir do dia 21. Para iniciar este ciclo de filmes portugueses estarão presentes na ante-estreia de "Jaime", o realizador, António Pedro Vasconcelos, e o jovem Saúl Fonseca que protagoniza este recente êxito cinematográfico português. Além de "Jaime", que vai estar em exibição no Luxemburgo através do circuito normal de distribuição, os quatro filmes apresentados nesta pequena mostra são êxitos dos anos 80 e 90 que certamente o público português vai querer (re)ver entre estes "Adão e Eva" de Joaquim Leitão, com Maria de Medeiros e Joaquim de Almeida (foto).
Cinco dias, cinco filmes
Numa iniciativa do Instituto Camões, com a Samsa Film e o grupo Utopia – Utopolis, decorre de 21 a 25 de Outubro um ciclo de cinema dedicado a grandes sucessos do cinema português. Este ciclo abre com o último grande êxito de bilheteira em Portugal que é o filme Jaime de António Pedro Vasconcelos, que estará em projecção no Luxemburgo posteriormente, no circuito de distribuição normal.
O Instituto Camões e a produtora Samsa – note-se que este filme é uma co-produção luso-luxemburguesa – convidaram o realizador e o protagonista a estarem presentes para a ante-estreia, que marca também o arranque deste ciclo de cinema português.
Êxitos dos anos 90
Se "Jaime", de António Pedro de Vasconcelos, foi um êxito em Portugal nos últimos meses, os outros filmes que vão ser projectados durante o resto do ciclo também marcaram o cinema em Portugal, principalmente pelo êxito que tiveram junto do público nacional.
As bilheteiras portuguesas não são excepção numa Europa em que o cinema americano domina os cinemas. No entanto, alguns filmes portugueses recentes têm "quebrado o gelo" que se criou entre a produção cinematográfica portuguesa e o grande público.
"Adeus Pai", de Luís Filipe Rocha, é um dos filmes lusitanos que mais portugueses levou ao cinema. Trata-se da história de um jovem chamado Filipe que, como o protagonista de Jaime, tem 13 anos. Filipe tem o sonho de passar as férias com o seu pai nos Açores. "Adeus Pai" não é um filme para crianças, mas consegue tocá-las tanto e de forma tão profunda como aos adultos. A música dos Delfins ajudou a fazer desta película um êxito em Portugal no ano de 1996.
Um ano antes foi realizado "Adão e Eva", uma comédia SIC, como alguém lhe chamou então, é um filme divertido e com ritmo, que conta a história de um grupo de amigos um bocado desorientados, nomeadamente de uma jovem locutora que quer ter um filho mas que prefere as mulheres aos homens. É um retrato divertido do Portugal de hoje, com excelentes interpretações de Joaquim de Almeida e Maria de Medeiros. Adão e Eva é uma realização de Joaquim Leitão, um realizador que passou para o outro lado das câmaras em "Jaime".
Os anos da reconciliação
Foi nos anos 80 que o cinema português começou a reconciliar-se com o público, depois de décadas de divórcio. As comédias dos anos 50 foram durante anos a única referência em termos de cinema português para o público em geral. Nos anos 80, "Kilas o Mau da Fita" e "O Lugar do Morto" vêm aproximar o público da produção cinematográfica nacional. No ciclo que decorre esta semana apresenta-se "Sem Sombra de Pecado", de José Fonseca e Costa (1982) e "O Lugar do Morto", de António Pedro de Vasconcelos (1984).
O primeiro filme conta com a participação de Victoria Abril, Mário Viegas e Lia Gama, e baseia-se na obra "E aos Costumes Disse Nada" de David Mourão Ferreira. Conta a história de Henrique um jovem burguês que começa a receber telefonemas de uma mulher misteriosa e acaba envolvido numa trama intrincada.
"O Lugar do Morto" foi durante muito tempo o maior êxito de bilheteira do cinema português. Este trabalho de António Pedro Vasconcelos conta-nos a história de um jornalista (Pedro Oliveira) com uma vida complicada que testemunha parcialmente um crime e tenta descobrir o que se passou, acabando por se envolver numa relação com uma mulher (Ana Zanatti). RR

Uma história de sucesso
Jaime é um drama familiar
Para o realizador António Pedro Vasconcelos, "Jaime" é um drama familiar e não se deve atribuir a esta sua obra um carácter de intervenção social. Jaime é a história de um rapaz que vive na cidade do Porto e que quer trabalhar para ajudar seu pai a voltar ao mundo do trabalho. Nesse sentido é um drama familiar, mas o pano de fundo do trabalho infantil fica na retina do espectador.
A personagem principal, Jaime, de 13 anos, é interpretada por um neófito, o jovem Saúl Fonseca que foi escolhido em castings organizados pela produção na cidade do Porto. Saúl nem sequer contou aos seus familiares que tinha ido aos castings, sendo obrigado a fazê-lo quando lhe anunciaram que a derradeira etapa da selecção decorria em Lisboa. Saúl Fonseca foi escolhido e a sua prestação é, sem dúvida, excelente.
Ao lado do jovem actor encontram-se Fernanda Serrano (uma das sex-symbols da televisão portuguesa, que os espectadores conheciam das telenovelas), o realizador Joaquim Leitão (pela primeira vez a trabalhar como actor), Vítor Norte, Rogério Samora e Nicolau Breyner.
Um dos temas musicais deste filme é da autoria de Rui Veloso e Carlos Té, sendo um dos temas mais conhecidos do seu último CD, identificado pela referência ao jogador de futebol Jardel, ídolo da personagem Jaime.
Presença em Cannes, prémio em Espanha
"Jaime" obteve o prémio do júri do festival de San Sebastián em Espanha, que se realizou no final do mês de Setembro. Já em Maio, o recém-acabado de estrear "Jaime", estava presente em Cannes, não em competição, mas como uma das apostas portuguesas em termos comerciais. O filme de António Pedro Vasconcelos tinha então o maior destaque promocional dos filmes portugueses presentes no Marché du Film.
Circuito normal no Luxemburgo
O último filme português a ter a honra de passar pelo circuito comercial regular no Luxemburgo foi a obra de Luís Galvão Teles, "Elles". Jaime usufruirá do mesmo circuito, esperando-se que o público corresponda.
Existe um certo temor dos responsáveis das salas do Grão-Ducado, soube o CORREIO de fonte próxima dos proprietários das salas Utopia, Utopolis e Ariston (actualmente detentores do monopólio da projecção no Luxemburgo).
O facto de o cinema português não ser muito popular e orientado para o grande público tem assustado os distribuidores e também os responsáveis da salas luxemburguesas, que preferem não correr riscos com filmes que levam uma ou duas dezenas às salas, acrescentou a mesma fonte. Esperemos que "Jaime" bata recorde. RR


Correio / Luxemburgo, 19/10/1999